Durante a 24ª Sessão Ordinária da Câmara Municipal de Jaru, realizada nesta segunda-feira (25), um tema importante ganhou destaque e abriu um debate necessário: a forma como mulheres se tratam entre si dentro da política, especialmente em pleno mês de agosto, marcado nacionalmente pela conscientização pelo fim da violência contra a mulher.
O debate foi iniciado pelo vereador Josemar do 34, que usou seus 10 minutos de fala no grande expediente para criticar de forma contundente a exclusão da vereadora Sol de Verão durante o evento do Agosto Lilás, realizado no dia 20 de agosto pela Procuradoria Especial da Mulher, na sede da ACIJ Jaru. Para ele, é inadmissível que uma parlamentar com trajetória consolidada na defesa feminina seja ignorada em um momento tão simbólico. “Estamos falando de uma vereadora reeleita, com dois mandatos e um histórico extenso de trabalho em defesa das mulheres. Ignorar sua presença e não permitir que ela ocupasse espaço de honra em um evento dessa magnitude não pode ser visto como algo comum”, afirmou o parlamentar, ao cobrar mudança de postura e mais união.
No evento intitulado “Rompa o Silêncio: uma conversa pela vida”, promovido pela Procuradoria e conduzido pelo cerimonial da Prefeitura, autoridades como o prefeito Jeverson Lima, juiz, promotor, advogadas, vereadoras e demais representantes de instituições foram chamadas ao palco para compor a mesa de honra e realizar falas. A vereadora Sol de Verão, entretanto, permaneceu na plateia, sem convite para participar oficialmente, apesar de sua reconhecida trajetória na luta pelos direitos das mulheres.
Em plenário, Sol destacou que não se incomoda em estar junto ao público, mas reforçou que o episódio não pode ser tratado como normalidade. “Não foi um equívoco, foi intencional. A intenção foi me excluir. Não estou me "vitimizando", apenas relatando os fatos da forma como aconteceram. Fui reeleita pela sociedade, e quem me trouxe de volta foi o povo. Isso não deveria acontecer, mas infelizmente acontece, e não podemos aceitar ou agir como se fosse normal”, declarou emocionada.
A parlamentar lembrou ainda que, antes de ocupar cadeira no Legislativo, já presidiu o Conselho Municipal dos Direitos da Mulher por dois mandatos e foi a primeira Procuradora Especial da Mulher tanto em Jaru quanto em Rondônia. Por isso, considerou inadmissível que um órgão institucional criado justamente para defender todas as mulheres seja usado de forma seletiva. Esse também não foi um caso isolado. Em março, a Procuradora Sthella Almeida, ao lado das vereadoras Tatiane Almeida e Suhellen Fernanda, gravou um vídeo institucional de divulgação de evento da Procuradoria, mas novamente deixou Sol de Verão de fora.
Na sessão desta segunda-feira, Sol concedeu parte do seu tempo de fala para que a procuradora Sthella Almeida pudesse se justificar. Sthella afirmou que o ocorrido teria sido apenas um erro de organização de sua assessoria e do cerimonial. A explicação, entretanto, levantou questionamentos, já que situações semelhantes vêm se repetindo, o que põe em dúvida a versão de que tudo não passou de um simples equívoco.
O caso reacendeu a reflexão sobre a necessidade de empatia e solidariedade entre mulheres na política. Josemar reforçou que as causas femininas precisam ser defendidas de forma coletiva e não enfraquecidas por disputas pessoais. Embora seja oposição a algumas ações do prefeito Jeverson Lima, Sol de Verão nunca atuou como oposição às pautas da Câmara, mantendo postura de diálogo e cooperação, sobretudo quando o assunto é a defesa dos direitos das mulheres.
O episódio expôs uma contradição que não pode ser ignorada. Em pleno Agosto Lilás, mês dedicado ao enfrentamento da violência contra a mulher e à promoção da união feminina, a Procuradoria da Mulher, órgão que deveria simbolizar acolhimento e representatividade, acabou sendo palco de exclusão e constrangimento. Falar em respeito, igualdade e união nos discursos é fácil. Difícil é viver esses valores na prática. E se até dentro da política mulheres são ignoradas e desrespeitadas por outras mulheres, qual mensagem está sendo transmitida à sociedade?